quarta-feira, junho 18, 2014

Coisas... (da matemática e etc.)

Ora bem: período de acompanhamento dos alunos com o intuito de preparar para a segunda fase das provas  (aulas mesmo, com horário marcado até 4 de julho) os meninos inscritos automaticamente (escangalha-se um ano letivo com provas em cima de aulas com este argumento) e, de dezenas de alunos, só me aparecem dois durante uma manhã inteira (um deles atrasado uma hora porque o despertador não tocou - chegou às 11 da manhã em vez de chegar às 10... !!! O irmão, também meu aluno, que deveria ter aparecido às 8:15, não veio.).

Todavia, eu gosto de estar com eles/ele e prefiro esses momentos a todos os outros, nem que seja um aluno apenas (convidei o menino que tinha uma aulinha das 8:15 às 9:45 a ficar durante toda a manhã comigo e ele ficou).

Coisas giras: Resolvemos fazer a prova para ver onde tinha sentido dificuldade e, a certa altura, eu disse o número 15 em inglês - fifteen - e ele, teacher it is not fifteen it is fifty... e eu, dear H, no it is not, listen - escrevi 50 - this is fifty, 15 is fifteen. A partir desse momento comecei a ler o problema em inglês e a explicar tudo em inglês, com ele a responder em inglês até que me disse: pronto pronto, já percebi que a professora sabe inglês muito bem, mas eu também tive 4.

Mais coisas giras: Resolvíamos um dos problemas da prova em que uma menina dizia que do dinheiro ganho no Natal (não se referia a quantidade), iria gastar uma determinada fração em algo e outra fração noutra coisa... a mãe da menina diz: não pode ser, isso é impossível e, finalmente a pergunta: a mãe tinha razão? O H. recosta-se e diz... neste tive dificuldade porque eu acho que era preciso saber o dinheiro que ela tinha... Achas? pergunto eu... Olha, vou fazer-te outra pergunta parecida... imagina que era o teu dinheiro e tu dizias à mãe: vou gastar um meio nisto, um meio naquilo e mais um meio naqueloutro...  e ela te dizia que não podia ser. Ela tinha razão? O H. diz que continua a não entender... Mudo de estratégia... Ok. Então foste à pizzaria com os teus amigos e disseste: vou pedir uma pizza e depois vou comer meia pizza no início, espero dois minutos, como outra meia, espero cinco minutos e como outro meio da pizza. Resposta imediata: isso não podia ser, só se fossem duas pizzas! Lá conversámos sobre o significado das frações e dos números que representam, sobre o facto de não ser preciso saber o dinheiro porque bastava perceber se a soma das duas dava uma fração de valor superior ou inferior à unidade e como se percebia isso olhando para a fração sem sequer fazer a divisão. Acabou o problema num ápice e soube dizer-me que o resultado era superior à unidade porque o numerador era maior que o denominador e que, portanto, a mãe tinha razão.

Moral da história: estávamos quase na hora de almoço e os exemplos com comida (diz-me a experiência) resultam melhor quando o açúcar começa a descer no sangue...

Mais outra moral da história: o H é um menino esperto mas infantil, conversador, distraído e brincalhão, que estava integrado numa turma de 30, com dois alunos com necessidades educativas especiais permanentes, repetentes de longa data com comportamento desadequado e muitos alunos que vieram reprovados a matemática no 5.º ano. Consegui recuperar alguns com esse perfil (o seu primo foi um deles e vários alunos nesta turma, mesmo tendo um três muito baixinho, conseguiram reproduzir esse 3 na prova... Atribuí 13 negativas no final do ano...). Não tenho dúvidas de que, numa turma com menores dimensões, este aluno não teria tido dois a matemática nem 37% na prova, mas assumo não conseguir chegar a tudo e a todos nestas condições. Ele já está aprovado no 6.º ano, mas combinou com o pai que iria fazer uma segunda tentativa, pois matemática é a sua única negativa (era um dos alunos que transitou para o 6.º reprovado a matemática no 5.º). Os alunos com 1 que brincaram o ano inteiro, prejudicaram as aulas, faltaram e reprovaram o ano (alguns pela segunda ou terceira vez), embora com a possibilidade de ter esta segunda oportunidade, não vão sequer comparecer.

Por muito que goste destes bocadinhos, por muito que considere importante cada criança, e imaginando que, nas outras escolas, o panorama não deverá ser muito diferente (meia dúzia de alunos a comparecer), justifica-se toda a confusão, com implicações negativas no trabalho de milhares de alunos, gerada por provas feitas a meio do terceiro período? Por que razão não se deixa esse momento para depois do final nas aulas? Por que razão as turmas não são menores e se investe a montante em vez de a jusante? Por que razão quem toma decisões repete erros e parece sofrer de uma completa ignorância sobre os ciclos da vida e trabalho na escola? Por que razão os exames e provas passaram a ser a coisa mais importante do mundo e tudo gira em seu redor?

Daqui a pouco parto para a escola onde cumprirei afincadamente este novo horário letivo para atender... um ou dois alunos. Ou nenhum, como é o caso de uma das turmas onde todos transitaram e, mesmo os que têm negativa a matemática, não fazem tenções de comparecer na segunda fase, encontrando-se já de férias...

Alguém me explique como se eu fosse muito muito... onde está o "x" sem ser como se vê na imagem

Coisas, pois, eu sei...



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2 comentários:

Anabela Magalhães disse...

Subscrevo cada palavra tua, Teresa. Só acrescento que, para se cumprir o calendário estapafúrdio do MEC, com exames a meio do 3º período, todas as outras disciplinas são igualmente prejudicadas com aulas que ficam por leccionar... incluíndo disciplinas em que os alunos serão submetidos a exame, como Português e Inglês de 3º ciclo. Também não entendo as razões de isto ser assim... mas deve ser problema de quem não é iluminado... rssssssssssss...

Teresa Martinho Marques disse...

Claro que sim! Quando falo em escangalhar o ano letivo, refiro-me a tudo... Eu própria lecionava outras áreas e o trabalho foi prejudicado... Enfim... Não somos iluminadas, é o que é...
Beijinhos