quinta-feira, março 26, 2009

Evidências II (ternura)

Conversas doces:

- Ah ah ah... staying alive, staying alive! (C. baixinho a preparar-se para trabalhar)
- Tu conheces essa canção?
- Conheço e conheço mais dos Bee Gees!
- E vocês?
(Vários me mostraram os dotes no conhecimento de grupos variados como os Supertramp, Pink Floyd e outros).
- Este é o grupo favorito do meu pai e ele mostra-me as canções!
- O meu também! Eu sei muitas! (Começa a cantar algumas)

(Uma alegria inunda a sala... A Matemática pode começar. A 10 minutos do fim... Mas já passou o primeiro tempo? Já passou sim... Nem dei por nada...)

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- Ai professora gosto tanto de si! (e dá-me um abraço na fase de entrada para a aula de Estudo Acompanhado)
- Então que miminhos são estes logo às 8.15?
- Oh professora... é que eu sonhei consigo!
- Sonhaste comigo? E sonhaste o quê?
- Sonhei que me tinha dado um 5 a Matemática! (a avaliação está feita há uma semana e... será 3)
(Risos aos molhos)

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- Professora... eu sou a sua muleta... (dá-me o braço e finge que me ampara a subir as escadas)
- Estás a chamar-me velhota? É? (rio)
- Não... mas assim se cair eu estou aqui. (Finjo que caio e ela, muito pequenina, tenta agarrar-me). Oh professora, assustei-me!

(Avançamos a brincar por ali acima. Eu a fingir que tropeço, ela a fingir que me ampara. É uma menina com "pouca mãe"... aliás, com pouca companhia em geral... Afeiçoa-se a todas as figuras de mãe que lhe dêem alguma atenção, que ralhem, que escutem. Este jogo da muleta é continuado todos os dias em que aparece uma escada...)


É imperativo proteger as evidências de ternura, proteger as aves nesta Primavera com sinais de Inverno.
Dar-lhes todo o nosso tempo, dar-lhes a beber o néctar do carinho e da paciência. Não podemos desgastar-nos com o acessório ou corremos o risco de os perder. Eles só têm este tempo para estar ao nosso colo. Não é possível adiar coisa alguma com as crianças. Pô-las em espera enquanto vamos tratar da nossa vidinha.

Coitadinho de quem não percebe isso.


(Vêem a diferença? Evidência de hidratos de carbono no sangue e de uma consciência tranquila dentro do corpo :)

2 comentários:

Isabel Preto disse...

É por essas e por outras que te admiro! És muito parecida comigo, nisso de lhes dar colo:)
Hoje, uma colega interrompeu a minha aula, para lhes dizer as avaliações...fiquei triste por eles...pois é uma turma assim, de meninos que nada têm...só a nós...e esforçam-se tanto! Já não se vêem muitos como estes.

Teresa Martinho Marques disse...

Sei que há muitos professores como nós. Sou optimista por natureza... É por isso que acredito que é possível um outro caminho e que muitas crianças não serão nunca trocadas pela "azáfama burocrática" da boa nota dos s'tores...