domingo, agosto 19, 2007

O essencial e o acessório II

Através de uma mensagem de correio electrónico (o texto começou por ser um comentário mas, dada a dimensão, JL - HM resolveu enviar-mo por aquela via) chegaram-me palavras pertinentes que completam e reforçam as da entrada de há dois dias.
Enquanto aguardamos por Setembro e por uma "estreia em preparação"... Pedi autorização (e obtive-a) para colocar aqui partes dessa mensagem. Poderá ser útil a todos quantos se interessam por estas questões. (Introduzi apenas alguns links para autores e obras...)

JL:
Complementando a tua entrada, deixo aqui uma parte do início do Capítulo 1 de Multimedia Learning, de Richard Mayer, que ando a ler para, entre outras coisas, preparar a acção de formação que vou dar em Outubro sobre produção de materiais multimédia. Ao falar sobre abordagens centradas na tecnologia (das quais ele discorda) [tradução muito rápida e em cima do joelho]:
O que há de errado com as abordagens centradas na tecnologia? Uma revisão das tecnologias educacionais do século XX mostra que estas abordagens geralmente não conseguiram levar a melhorias duradouras na educação (Cuban, 1986 - L. Cuban, Teachers and machines: The classroom use of technologies since 1920). [p. 8]
Depois de dar vários exemplos (o cinema, a rádio e a televisão), continua:
O que é que falhou nestas tecnologias que pareciam à beira de explorar o potencial do ensino visual e mundial? Atribuo os resultados desapontantes à abordagem centrada na tecnologia tomada pelos promotores. Em vez de adaptarem a tecnologia às necessidades dos alunos, as pessoas foram forçadas a adaptar-se às exigências das tecnologias de ponta. A força motriz das implementações foi o poder da tecnologia em vez do interesse na promoção da cognição humana. O foco foi dar às pessoas acesso à mais avançada tecnologia em vez de ajudar as pessoas a aprenderem com a ajuda da tecnologia. [p. 10] (...)
.


(...)
Ainda sobre o potencial das tecnologias, Joseph S. Krajcik e Phyllis C. Blumenfeld, no artigo "Project-Based Learning" (The Cambridge Handbook of The Learning Sciences, ed. por
R. Keith Sawyer), o tal de que te falei e que li assim de uma assentada dizem:
As ferramentas tecnológicas podem ajudar a transformar a sala de aula num ambiente em que os alunos constroem o conhecimento de uma forma activa. [p. 325]
Se reparares todos estes autores não são contra as tecnologias mas centram a sua atenção no aluno e no desenvolvimento de competências de nível superior. As tecnologias são (deveriam ser), somente, uma ferramenta.


(...)
Ainda sobre as tecnologias,
Martin Weller (Delivering Learning on the Net) tem uma saída (verdadeira - ambos conhecemos casos destes) que eu acho espectacular: "Deixemos, por agora, de lado o debate sobre o impacto da tecnologia nos resultados da aprendizagem. É nas práticas de ensino que o impacto das tecnologias educacionais tem sido muito menor do que seria de esperar do investimento, discussão e optimismo que as envolve."
.
Palpita-me que o assunto não morre aqui...

11 comentários:

Teresa Lobato disse...

Louvo esta tua vontade de continuares a "vasculhar" material, mesmo em férias, amiga. Ai, eu também já fui assim...
I'm back! Com pouca vontade de regressar ao trabalho...
Beijinhos

Anónimo disse...

:) Continua a giboiar que só te faz bem!!! eh eh eh Beijinhos

Paideia disse...

Venho aqui meter a colherzinha, já que este é o meu "departamento". Mayer é O senhor da cognição e a sua investigação, os seus pareceres, são incontornáveis. Jonassen, um pouco deslumbrado, à altura em que publicou o livro agora traduzido, já está um pouco mais moderado, no seu imenso deslumbramento inicial.
A questão das tecnologias serem "somente" uma ferramenta tem que ser vista em perspectiva histórica: é que sempre que o homem inventa uma ferramenta, esta transforma-o. Deste modo, as tecnologias não são assim tão "inócuas", seja na perspectiva Vygotskiana, seja na perspectiva da teoria da actividade.
:):):)três sorrisos para a conversa não parecer muito séria. E beijinhos.
Ijota

Herr Macintosh disse...

Claro que a criação de uma ferramenta transforma o Homem (gosto da perspectiva histórica já que este é o meu "departamento" :-)). O "somente" tem a ver com o facto de as tecnologias no ensino não deverem ser um fim em si mesmo (a perspectiva mais fácil - colocam-se uns computadores nas escolas e temos os problemas todos resolvidos). Como diz Mayer, o importante não é o meio mas a forma como a mensagem é construída e qual a metodologia utilizada.
Martin Weller (Delivering Learning on the Net) tem um comentário que acho muito engraçado (que é deixo aqui para isto não parecer muito científico e chato) em que compara o fascinío dos professores pelas tecnologias com um personagem de P. G. Wodehousse (que, confesso, não conheço - o personagem e o autor) que, pelos vistos, se apaixonava muitas vezes, dizendo de cada vez que aquela é que era a sério. Quando confrontado com as suas declarações anteriores sobre os seus grandes amores o personagem dizia invariavelmente que não se podia comparar a profundidade desta nova paixão com as suas paixões anteriores.
E aqui fica a minha colherada, esperando que duas colheres não estraguem o prato :-).

Anónimo disse...

Lá me fazem outra vez interromper de corrida as férias bloguistas! 3za, sabes como acho este assunto importante, venho só sugerir-te que, mesmo que não repitas estes posts, os voltes a referir, com links, quando o 'pessoal' voltar de férias.
(Eu também hei-de pegar no assunto lá no meu cantinho - mas apenas em termos de memória-experiência pessoal)
Bjs

Teresa Martinho Marques disse...

Beeeem! Vocês estão imparáveis...
Como eu gosto das vossas colheradas (sérias, com vários sorrisos, de qualquer maneira)e como reflicto e aprendo tanto com elas!
Sim, Idalina e JL, a mudança social é incontornável. O curioso é a escola conseguir mudar pouco, mesmo quando tudo à sua volta muda tanto. A questão é tentar evitar que a escola se "deslumbre" usando a tecnologia (optimismo descontrolado)como rebuçado sem mudar na sua essência coisa alguma, levando-a a reflectir, primeiro, sobre como pode melhorar a sua abordagem do "fazer aprender" numa sociedade que já mudou, que precisa de (espera) "outra coisa" dela e, aí, usar a tecnologia como aliado poderoso (a tal ferramenta?) para potenciar a sua actividade e ir finalmente ao encontro da tal grande mudança "universal".Uau...
Acho que qualquer dia estamos a precisar de férias outra vez! eh eh eh. Penso que devíamos combinar todos um cafezinho no Meco para reflectir em voz alta sobre estas questões :D ... provavelmente, sob a influência da paisagem, acabaríamos a falar de outras coisas ;)... seria essa a ideia.
Boa sugestão Isabel... fá-lo-ei... :)
Beijinhos

Herr Macintosh disse...

Cafezinho no Meco? Eu estou nessa (mesmo não bebendo café).

Paideia disse...

'Bora lá: cafezinho com roupa, que há idades que já não comportam...
;)

Anónimo disse...

Sim, com roupa... à sombra de um chapéu de sol... e quem quiser sem roupa... dispa-se depois e avance até ao mar! Então e o melhor dia? Convém de semana, que há menos gente...assim depois de almoço tipo a partir das 14... Combinamos e depois desafiamos outros... :)Estão a dar melhoria de tempo e menos vento para o final da semana... aconselharia quinta ou sexta... que dizem?

Herr Macintosh disse...

Por mim, sexta-feira era bom.

Anónimo disse...

O encontro seria no Onda Azul que é o café logo à entrada do Meco (praia do Moinho de baixo, como se chama realmente)junto aos estacionamentos. Espero que haja mesas à sombra, pois normalmente andam atarefados e cheios com os almoços... Logo se vê.