segunda-feira, dezembro 25, 2006

Os caminhos caminham



A mana Lena encontra para mim verdadeiros tesouros... (Foi ela que me apresentou a Shel Silverstein, já o disse uma vez)
Não é por acaso. Educadora de Infância de mão-cheia, formadora de professores, com uma paixão grande pela literatura para a infância e juventude, conhece o que poucos conhecem e partilha formal, ou informalmente, tudo o que o caminho que tem caminhado lhe tem oferecido em experiência e aprendizagem.
Não, não foi presente de Natal, embora me tenha sido oferecido ontem: é prenda de aniversário atrasada. Vais gostar. Há aqui um texto que sei tem tudo a ver contigo...



E não é que é verdade?

E não é que tem tudo a ver com todos nós?
Agora estou cheia de vontade de ler o que falta...
.
E uma vez que o caminho deste ano quase velho está a terminar e o do novo prestes a iniciar-se, deixo-vos o último parágrafo de...
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Os caminhos caminham

(...)
Os caminhos são nossos e não são nossos, tal como nós, habituais transeuntes, somos dos caminhos e não somos. O mais importante é outra coisa: é o caminho nunca mais acabar, ou se acabar começar outro; crescem sempre mais e mais, até ao horizonte e ainda para além; os caminhos atam a terra inteira, são feitos de passos e para os passos, cada vez mais passos, mais homens, mais animais, todo o mundo anda, toda a rede de caminhos caminha, o espaço é povoado e novos caminhos se fazem, no ar e nas águas, parece que tudo se confunde mas nada se confunde, sucede apenas que eu baralho tudo e escrevo mal, o que é o bom e o bonito. Até os pombos compreendem isto.


Meio Conto
Jorge Listopad
Armanda Passos

ADENDA: Não resisto... vantagens de ser dia 25 e as listas estarem congeladas... até as dos contributos para o almoço de hoje (já concluí as tarefas da minha responsabilidade). Deixo aqui o "Meio Conto" que abre este livro. Gosto, gosto mesmo. Do livro e de começar este dia 25 a ler e a brincar...

Meio Conto

Fui ao mercado onde se vendem maçãs reinetas, hortaliça variada, feijão, pão saloio, queijo de Alverca; na banca das galinhas vivas pedi meio ovo.
Responderam: - Não vendemos meio ovo. Desapareça daqui!
Agradeci e fui ao supermercado. À porta peguei num carrinho e andei com ele pelos corredores, entre bolachas, sabonetes, garrafas de vinho e iogurtes, conduzi o carrinho com muita habilidade, buzinei com a boca, - Força! - , dizia o gerente, mas em parte nenhuma vi o meio ovo. Só caixas de plástico cor de ovo, com meia dúzia de ovos que são seis.
Fui ao parque onde há aquele pequeno lago no qual nadam patos. Disse a um deles: - Bom dia, boa tarde, queira desculpar, preciso de meio ovo -.
O pato nem respondeu, pôs a cabeça dentro de água, o rabo ao alto. E riu-se tanto que até apareceram bolhas na água.
E eu preciso de meio ovo. Podiam perguntar-me por que preciso de meio ovo, mas ninguém pergunta. Só dizem que não há, ou vai-te embora malandro, ou esta juventude de agora, e não me deixam explicar por que preciso desse meio ovo sem o qual não voltarei a casa.
A casa é pequena, durmo numa cama com o meu meio irmão, e o meu meio irmão dorme numa cama comigo. Ele é enorme, cada um de nós tem meia cama, eu tenho a meia mais pequena, então, não sei se compreendem, também quero meia tijela e meia bola e meia mãe e meia escada e meio professor e meio ovo.


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