quinta-feira, março 23, 2006

Tempo para ler...

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Ainda embalada pelos livros e pela poesia... veio-me à lembrança esta leitura de tempos passados.
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"Tudo bem, mas a que parte do atarefado dia podemos ir buscar essa hora de leitura diária? Aos amigos? À televisão? Às viagens? Aos serões familiares? Às minhas obrigações?
Onde desencantar tempo para ler?
É um problema grave.
E não é o único.
O tempo disponível para ler e o desejo de ler, nem sempre coincidem. Porque, se virmos bem, ninguém tem tempo para ler: nem os pequenos, nem os médios, nem os grandes. A vida é um perpétuo entrave à leitura.
- Ler? Eu bem gostava, mas sabe... o trabalho, as crianças, a casa, não tenho tempo...
- Nem sabe como o invejo, por ter tempo para ler!
Mas como se explica que aquela, que trabalha, vai às compras, educa os filhos, guia o carro, ama três homens, vai ao dentista, vai mudar de casa para a semana que vem, arranje tempo para ler, e este casto celibatário que vive de rendimentos não o consiga?
O tempo para ler é sempre um tempo roubado. (Como aliás o tempo para escrever, ou para amar.)
Roubado a quê?
Digamos que ao dever de viver.
É sem dúvida por essa razão que o metropolitano - símbolo tranquilo do referido dever - é a maior biblioteca do mundo.
Tanto o tempo para ler como o tempo para amar dilatam o tempo de viver.
Se encarássemos o amor pela perspectiva do emprego do tempo, o que sucederia? Quem tem tempo para estar apaixonado? No entanto, alguma vez se viu um apaixonado não ter tempo para amar?
Nunca tive tempo para ler, mas nada, nunca, me impediu de acabar um romance de que gostava.
A leitura não resulta da organização do tempo social, ela é como o amor, uma maneira de ser.
A questão que se coloca não é saber se tenho ou não tempo para ler (tempo esse que, aliás, ninguém me dará), mas sim se tenho ou não prazer em ser leitor.
Banane e Santiags resume a situação com um slogan arrasador:
- tempo para ler? Está no meu bolso.
Ao ver o livro que ele tirou do bolso (Légendes d'automne, de Jim Harrison, 10/18), Burlington aprova, com ar pensativo:
- Pois é... quando se compra um blusão, o que é importante é o formato dos bolsos!"
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Daniel Pennac
Como um Romance, Ed. ASA
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Acrescento que ler, nos gestos de partilha, pode ser também viver e amar em simultâneo.

(Vale a pena experimentar... com os filhos, com os companheiros, com os alunos...)

6 comentários:

Anónimo disse...

Ler (pensar, escrever...)
...são momentos sagrados...
...são o romper da monotonia...
...é encontrar o silêncio interior e a serenidade...
...é homenagear a inteligência de quem os escreveu...
...das escritoras e escritores como TU, TT, que quando escreves vais abrindo janelas a que eu gosto de espreitar!!
Bjkas
Ana Caetano

Teresa Martinho Marques disse...

Amiga... saudades de te ver... Quem sabe esta Páscoa! Gostei tanto de te saber por aqui... Beijinhos!

Anónimo disse...

Apesar de gostar de ler e de ter montes de livros em lista de espera para serem lidos, às vezes não encontro tempo "psicologico", ou seja, um estado em que não esteja com sono, para ler algo mais para além dos livros da escola. Depois há o comboio, 50 minutos de viagem que se combinam bem com letras, e momentos (sempre) em que uma novela é bem substituida por um livro.
Não sei se conta, mas ha tb a leitura dos blogs, que é o meu momento de desatrofio diário! Hoje decidi comentar, para saber que continuo a passar por aqui.
Beijinhos :)

IC disse...

Ai... Teresa, nos meus "afazeres pendentes", acho que não referi o montinho de livros urgentes. Mas não são poesia, nem romance (e não sobre educação, claroooooo!!!), e este teu tema "Tempo para ler" é complicado. Se a questão é "saber se tenho prazer em ser leitor" (a), lembro-me logo que quando tenho pendentes leituras mesmo, mesmo por prazer de ler, são noites de sustos a olhar para o relógio e ver que já são seis da manhã, pois não despego e o prazer dá a seguir um dia com a pele toda a saber a sono. Com os outros "pendentes" todos... resta-me usar casaco sem bolso :)))
Ler com os outros? Bem, com a neta, isso sim, mas é para lhe criar o gosto de ler sozinha.

Estou de acordo com o teu post, ele é importante, mas... não deixa de ser por vezes uma questão complicada :)

Teresa Martinho Marques disse...

Pois é... muito complicada... (A Sara bem refere... e os blogs... bem... contam só um bocadinho, mas acho que contam...). Essa das horas é bem verdade... uma pessoa lá se "distrai"... e livros acumulados? Não estás a ver as minhas pilhas... mas não devem ser diferentes das tuas/vossas... Mas... há um segredo escondido no meio de tudo isto... contá-lo-ei no próximo post...

Teresa Martinho Marques disse...

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