quinta-feira, janeiro 26, 2006

Escola (da) Vida - 2


(...) Deixei de acreditar que as “escolas”, por muito bem organizadas que sejam, constituam os únicos locais adequados, ou os melhores para que este processo (aprendizagem) aconteça. Tal como escrevi em Instead of Education e em Teach Your Own, salvo raras excepções, o conceito de locais de aprendizagem, onde nada acontece a não ser aprendizagem, já não me parece fazer sentido algum. O local mais adequado e o melhor lugar para as crianças aprenderem tudo o que precisam ou querem aprender é o local onde quase todas as crianças aprendiam, até há bem pouco tempo – o próprio mundo, e no seio dos adultos.
Devíamos instalar em todas as comunidades (talvez em antigos edifícios escolares) centros de recursos e de actividades, clubes e outros locais onde pudessem ocorrer muitas espécies de coisas – bibliotecas, salas de música, teatros, instalações desportivas, oficinas, salas de conferência, que estariam abertas ao público e seriam usados tanto pelos jovens, como pelos mais novos, como pelos mais velhos. Cometemos um erro terrível quando (com a melhor das intenções) separámos as crianças dos adultos e a aprendizagem do resto da vida, e uma das nossas tarefas mais urgentes é derrubar essas barreiras e voltar a reuni-las (a aprendizagem e a vida). (...)

Será?

www: JohnHolt, Dificuldades em Aprender, Ed.Presença
http://www.holtgws.com/howchildrenfail.html


http://www.holtgws.com/johnholtpage.html


http://www.naturalchild.com/guest/marlene_bumgarner.html

http://www.educationreformbooks.net/failure.htm

http://www.context.org/ICLIB/IC06/Holt.htm

http://www.bloomington.in.us/~learn/Holt.htm

Já agora... há quem tente voltar a reunir as chinchilas com a vida no habitat natural. Mas as domésticas são, depois de gerações de cativeiro, demasiado frágeis para tal.

Por isso, que tal proteger o habitat e mantê-las por lá, para que continuem a evoluir na capacidade de sobreviver nesse mundo que é o seu?


Fotos de Roland Seitre (Save the Wild Chinchillas)
http://www.wildchinchillas.org/
Our goal is to restore essential habitat for endangered chinchillas (C. lanigera) while dissuading habitat degradation in this ecosystem. Specifically, we will focus on ecosystem restoration in Quebrada Cuyano utilizing native vegetal species, many of which, like the fauna, are endemic and of grave conservation concern.

(continua...)

6 comentários:

Anónimo disse...

Confesso que não sei comentar o texto de John Holt, o termo aprendizagem fica-me confuso quanto a que se refere - há aprendizagem da vida, há instrução, que é aprendizagem, há muitas aprendizagens, até, por exemplo, aprender a mudar fraldas - diferentes hierarquias (ou níveis, ou... falta-me o termo adequado, não faz mal). Acho que todos sabemos que não foi na escola nem pela escola que aprendemos a vida (ou começámos a aprender, que isso nunca termina). Embora possamos ter encontrado nela pessoas, professores ou vivências que deram contributos, nunca me passou pela cabeça que a escola fosse destinada a que as minhas filhas aprendessem a vida ou a que os meus netos a aprendam. O que não me parece é que a escola possa não ser indispensável para dar instrução, o que é bem diferente mas necessário, embora não só ela a dê. Mas, os outros meios seriam inúteis sem a aprendizagem base do saber ler, sem uma iniciação nos saberes e no pensar neles (incluindo o pensar que há um saber que virá a ser fundamental: saber que será necessário aprender a vida e que é necessário adquirir alguns "instrumentos" para isso.
Só fiz este comentário porque o texto me faz muito sentido se se estiver a falar de outra coisa que não a escola-instituição, mas já não faria se se tratasse de negar que as aprendizagens que cabe à escola proporcionar são imprescindíveis (embora não as essenciais). Que aprendizagens, quais as imprescindíveis, isso já é outra questão!
(Mais valia não ter comentado, que ando a abrir a boca depressa e... "ou entra mosca ou sai asneira")
P.S. Que é um erro terrível separar as crianças dos adultos, isso concordo totalmente. Mas, isso está a acontecer assim tanto??!!

Teresa Martinho Marques disse...

Este texto é isto mesmo: uma provocaçãozinha. É preciso situá-lo no contexto do "tempo" de John Holt e da sociedade em que viveu. Quando penso no horário dos alunos da minha DT (uma tarde livre e mais uns buraquitos), quando ouço alunos a dizer-me (e é verdade) que não estão dar conta do recado e que lhes apetece brincar mas o tempo não chega para tudo, assusta-me o que lhes estamos a fazer. (Ontem uma aluna, mais lenta e muito criativa, chorava, não é a primeira vez, numa ansiedade porque dizia que eram tantos TPcs e coisas para fazer e ela fazia tudo tão devagarinho que depois não sobrava tempo nem acabava as coisas... é cedo para esta ansiedade, não é? Ela tem apenas 11 anos). Não digo que o tempo que passam na escola não seja útil. É claro que é. Agora têm lá coisas que o J Holt não tinha, e tratam-se temas da vida à mistura com os conteúdos (quem trata), sobretudo em AP e FC, mas não só. Nunca será tempo perdido (nem que seja só para aprender pelo oposto e partir em busca de outra coisa). Mas ontem numa conversa mais tertuliana (coisa boa), reflectimos sobre o que de facto partilhamos de nós com eles enquanto adultos (hei-de escrever algo sobre o assunto). por exemplo: queixamo-nos de que as crianças não lêem... e quando se apresentam os professores aos alunos como leitores? Eu tenho o hábito de partilhar livros meus com os alunos, de trazer um poema para a aula (de matemática) e falar um minuto de algo que li e de que gostei. Já tenho tido verdadeiras "bibliotecas de turma" a circular por eles. Até um poema de António Gedeão surgiu a propósito do estudo da folha em Ciências. É só um exemplo. Outro (de que falarei hoje no blogue)é ter resolvido partilhar o blogue com os meninos e, assim, levá-los a perceber outros lados de mim que estimulam a brincadeira da imitação do adulto... procurando eles reproduzir a "coisa" estética (querem saber como é que eu mudei as cores do template) e até a seriedade dos conteúdos. Portanto sim. A Escola faz falta e não considero o ensino em casa uma solução. Nunca. Mas também tenho a noção de que se correm riscos, com muitos professores, de afastar os alunos do prazer de aprender... Já o vi acontecer vezes de mais para saber que a Escola, sendo uma coisa boa, pode ser também, algo perverso, se os alunos forem parar às mãos erradas (e pergunto-me como reagiria se fosse mãe). Entendo o conceito de aprendizagem apenas no sentido do desenvolvimento de competências de diversos níveis - fraldas também (suportadas, naturalmente em conhecimentos de base úteis para as mobilizar). PAra uma criança com deficiência, um 319, pode ser uma coisa, para outros outra. Mas continuo a achar que elas deviam e podiam ser mais trabalhadas na escola e não deixadas ao sabor e acasos da vida. Com frequência a escola centra-se em conteúdos, listas intermináveis deles e é aí que essa separação está a acontecer: temos um currículo virado para o desenvolvimento de competências... e poucos têm procurado encontrar as soluções pedagógico-didácticas que nos permitam chegar lá. A Escola é indispensável. É. mas a família e a vida, também, e muito. Sinto que estamos a encher os miúdos de escola e a despejar deles o tempo para viver a vida fora dela... Lembro-me de ter todas as tardes livres com a idade deles... e que bem que eu as aproveitava! O tanto que aprendi nos jogos de fingir ser professora da mana mais nova, o imenso que li, que brinquei, fantasiei, escrevi. Acho que se vivesse neste tempo já estava a ser tratada por um pedo-psiquiatra... o que, aliás, está a ser mais frequente desde cada vez mais cedo... Talvez valha a pena perguntar por que estão as nossas crianças "à beira de um ataque de nervos"... porque há tantas crianças e jovens que se sentem infelizes ( e são mais do que pensamos). Perguntas difíceis, mas a escola, que lhes ocupa a maioria das horas de vida, devia pensar nelas...

Teresa Martinho Marques disse...

P.S. Que é um erro terrível separar as crianças dos adultos, isso concordo totalmente. Mas, isso está a acontecer assim tanto??!!

Faltou-me isto:
Acontece com mais frequência do que imaginamos, de forma estranha. Muitos adultos-professores que, neste momento, estão "junto" dos alunos, não são os adultos-pessoas (ou talvez sejam e eu esteja aqui a divagar). Passamos para eles uma visão deprimida, cansada e triste nos gestos que fazemos em direcção aos outros (sem lhes explicar as razões), na pouca paciência, na irritação que nos faz ferver em pouca água por outras razões (ano difícil). Melhor seria partilhar com eles o que sentimos (faço-o, explicando também as mudanças por que o sistema tem passado e a forma como isso afecta os professores - não o escondo). Agora, por outro lado, podemos sempre pensar se não estará na nossa vocação de povo triste, com o fado na alma, esta coisa cinzenta de viver os dias só a pensar no que acontece de pior... e se não é isso que, afinal, a vida lhes vai mostrando que somos. E se, para concluir, não será exactamente assim que devem aprender a ser... porque as heranças, afinal, fizeram-se para ser herdadas... e os professores bem podem ajudar.
Se forem "felizes" assim... por que não? Mas se forem mais felizes sendo combativos e procurando mudar o mundo à sua volta, encontrando soluções e não se acomodando... encontrando tempos para sorrir e razões para tal... então, acho que temos de ter cuidado com a mensagem "de vida" que lhes vamos passando... nesses tempos de escola, quando estamos (aparentemente) juntos.
Já não sei se faço sentido ou se estou aqui deambulando com o restinho de sono característico dos madrugadores...

matilde disse...

Esta semana complicada tem me deixado pouco tempo e disponibilidade mental para comentar aqui na blogosfera...
Haveria muito a dizer acerca dos posts anteriores (e do posterior a este)que colocaste esta semana aqui na teia. Escolho este... porque me fez pensar em duas situações específicas.
Em primeiro lugar a dificuldade e resistência que se sente nas escolas em abrirem-se ao exterior. Em tempos, no âmbito do trabalho no Académico de Torres Vedras, participei na organização de diversas actividades de divulgação científica, tais como conferências, exposições interactivas, tertúlias com investigadores portugueses. A grande dor de barriga não era na organização, no contacto com os investigadores, na procura de apoios, mas sim na incerteza de conseguirmos encontrar professores interessados em participar, com os seus alunos, e a poucos metros de algumas escolas, por exemplo em conferências dinamizadas pelo Prof. Carlos Fiolhais ou pelo Prof. Nuno Crato. Os testes e o cumprimentos dos programas eram as grandes razões apontadas pelos professores para a impossibilidade de levarem os seus alunos à iniciativa...
O que queremos da escola? Cabeças bem cheias ou cabeças bem feitas? (como dizia, se não estou em erro, Phillipe Perrenoud)
Outra questão que se me colocou com este post e estes comentários, diz respeito exactamente ao horário semanal dos alunos. No final do 1º período houve, na minha escola, um sem número de propostas dos conselhos de turma de aulas de recuperação para os alunos. Não deixo aqui alguns comentários que ouvi acerca deste elevado número de propostas, mas muitas deles estavam longe de ter em conta exclusivamente as necessidades dos alunos e a sua aprendizagem...
Desde que ocupo funções no Conselho Executivo de um Agrupamento Vertical de Escolas, sinto uma responsabilidade acrescida em relação à forma como está a Escola a desempenhar o seu papel na formação de cidadãos que entram no Agrupamento com 3 anos e saem com 14 (ou mais). Se "tiramos" aos alunos grande parte do seu tempo para desenvolver actividades fora da escola, não teremos o obrigação moral de lhes trazer a Vida para dentro da escola?... proporcionando-lhes espaços de participação activa, contactos com instituições exteriores, proporcionando-lhes experiências onde aprendam a viver não só com os momentos de sucesso e alegria, mas também com o medo, a frustração, a insegurança, o desânimo... e aqui entra a lição das chinchilas... "levando-as progressivamente a ganhar a confiança suficiente para ir vencendo cada etapa".
Desculpem-me estes desabafos... é que hoje estou particularmente a precisar de um fim-de-semana... ainda bem que ele "já cá canta"!

Bjnhos e Bom Fim-de-Semana!

Teresa Martinho Marques disse...

Mais palavras para quê, Matilde? Vais directa a questões essenciais... E, sim, era, é o Perrenoud (outro autor que leio com frequência... percebe-se...) que faz essa afirmação. Eu só posso agradecer os "desabafos" que tanto enriquecem estas tertúlias "blogosféricas"... Acho que vou começar a sugerir a alguns colegas que venham ao blogue... mas para ler os comentários e a nossa troca de ideias. Sempre que puderes... estamos aqui e, sempre que puder, estarei por aí... Beijinhos e bom Fim-de-Semana!

Anónimo disse...

Neste meu fim de semana a blogosfera está adiada para a semana, por isso só passei por 2 blogues, mas ainda bem que passei, para ler tudo o que a Teresa disse aqui e a Tit também.
Beijinhos às duas, bom fim de semana!