terça-feira, janeiro 31, 2006

Olhos nos Olhos...


Hoje ocorreu-me apenas que os alunos são exactamente o oposto de uma paisagem:
apreciam-se bem melhor de perto (olhos nos olhos).
.

(Ainda assim, lá terei de passar o dia a ver testes... longe dos olhos deles, o que é pena.)

segunda-feira, janeiro 30, 2006

À procura de culpados...


João Pedro da Ponte, em 1994, no seu artigo Matemática: Uma disciplina condenada ao insucesso? NOESIS, 32, 24-26, dizia:

"(...) Para os professores, as causas do insucesso dos seus alunos são frequentemente a sua “má preparação” em anos anteriores. Por um raciocínio recorrente chega-se rapidamente ao 1º ciclo, daí às insuficiências da educação pré-escolar... Apontam igualmente o facto de muitas famílias terem um nível socio-económico e cultural muito baixo — ou terem um nível aceitável mas não incentivarem suficientemente os alunos. Os professores indicam que os alunos não se esforçam, não prestam atenção nas aulas nem estudam em casa. Contestam também que os currículos são excessivamente longos e que a necessidade do seu cumprimento obriga a deixar para trás os alunos mais “lentos”. Por vezes, reconhecem que há certas matérias mais “áridas”. Responsabilizam assim os alunos, as famílias, os professores dos anos anteriores, os currículos e as características próprias da disciplina.
Para os alunos, a principal razão do insucesso na discipina de Matemática resulta desta ser extremamente difícil de compreender. No seu entender, os professores não a explicam muito bem nem a tornam interessante. Não percebem para que serve nem porque são obrigados a estudá-la. Alguns alunos interiorizam mesmo desde cedo uma auto-imagem de incapacidade em relação à disciplina. Dum modo geral, culpam-se a si próprios, aos professores, ou às características específicas da Matemática.
Para os pais e para a opinião pública em geral, a responsabilidade está nos professores que não ensinam convenientemente — ou por falta de preparação ou porque não assumem o necessário nível de exigência — e nos alunos que não se esforçam o suficiente. Algumas vezes refere-se o peso de factores socio-culturais. Mas todos reconhecem que a Matemática é uma disciplina difícil e que a sua aprendizagem tem trazido grandes dificuldades em todas as gerações.
As causas apontadas andam todas à volta dos mesmos pontos, muito embora ênfases diferentes: a disciplina, o currículo, o professor, o aluno, razões de ordem social e cultural. Por vezes as causas aparecem misturadas com sintomas — com aspectos que são reveladores de insucesso mas que não o explicam só por si. Em todos os casos as características da disciplina estão sempre presentes. E é curioso verificar que os alunos, como elo fraco do sistema, são os únicos que aparecem dispostos a aceitar uma quota parte da responsabilidade. (...)"
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/jponte/docs-pt/94-Ponte(NOESIS).rtf

Em 1982, na edição revista do seu livro Dificuldades em Aprender, John Holt dizia no prefácio:

"(...) recentemente, num congresso sobre Educação, realizado em Nova Iorque, ouvi o Dr Ronald Edmonds, da Harvard Graduate School of Education, falar sobre uma pesquisa importante que tinha feito, a pedido das escolas públicas da cidade de NY. Ele e os seus colegas tentaram descobrir o que torna algumas escolas "eficazes", e por eficaz entende-se uma escola na qual a percentagem de crianças pobres que aprendem, em cada ano, parte satisfatória da matéria - o que lhes permite transitar de ano - é a mesma que a proporção correspondente de crianças ricas ou da classe média.
A primeira coisa que vale a pena notar é que, na totalidade da região nordeste dos Estados Unidos, os investigadores apenas foram capazes de detectar cinquenta e cinco escolas que se enquadravam nesta definição muito modesta de "eficaz".
Os investigadores, então, estudaram essas escolas para saberem quais as qualidades que elas tinham em comum. Das cinco que descobriram, duas depararam-se-me como cruciais: (1) se os alunos não aprendiam, as escolas não os recriminavam, nem a eles, nem às suas famílias, nem à sua classe social, nem aos seus vizinhos, nem ao seu comportamento, nem ao seu sistema nervoso, nem ao que quer que fosse. Não procuravam justificações. Assumiam completa responsabilidade pelos bons ou maus resultados do seu trabalho; (2) quando alguma coisa que punham em prática nas aulas não dava resultado, paravam imediatamente e tentavam fazer outra coisa. Reprovavam métodos fracassados, e não crianças. (...)"

No Correio da Educação nº245 (16 Janeiro de 2006), Ed. ASA , tendo por base o estudo

Inside the Black Box of High-Performing High-Poverty Schools
http://www.prichardcommittee.org/Ford%20Study/FordReportJE.pdf

diz-se que:

"(...) As escolas de sucesso destacavam-se nomeadamente em:

  • crenças de que todos os alunos poderiam ter bons resultados;
  • expectativas elevadas;
  • tomadas de decisão participada;
  • os professores aceitarem a sua parte de culpa no insucesso dos alunos;
  • distribuição estratégica do pessoal;
  • comunicação regular entre pais e professores;
  • corpo docente empenhado;
  • dedicação à diversidade e justiça.

Estas escolas apresentavam também substancial vantagem em quatro itens: adequação entre currículo e avaliação; monitorização e avaliação sistemática do percurso dos alunos; reforço de um núcleo de saberes académicos para todos os alunos; avaliação e instrução diversificadas que tentam corresponder a tipos diferentes de aprendizagem. Ao nível dos professores, estes estabelecimentos também apresentavam resultados superiores relativamente ao desenvolvimento profissional, da ligação ao sucesso dos alunos e atenção às necessidades de liderança."

E... ?

Será possível construir de dentro para fora a autonomia que permita a mudança de cenários em cada escola, de forma concertada, com desígnio, enquanto se trabalha de forma participada para que se vão, também, resolvendo os problemas de fora para dentro?

Encontraremos dentro de nós essa força combinada para desenhar soluções e pô-las em prática?

Não me canso de repetir a mim própria (a prova está aí ao lado direito, onde deixei a frase para me ir lembrando, mesmo nos momentos em que duvido):

Se não fazes parte da solução, fazes parte do problema.

Tenho esperança de, assim, evitar colocar-me sempre no papel de vítima e assumir, com regularidade, o papel da culpada. É nesses momentos que o mundo pula e avança, como bola colorida, entre as mãos de uma criança.


domingo, janeiro 29, 2006

Batem leve...



Eis a prova que faltava!
Afinal um fenómeno de excepção pode ser generalizável ao País... ainda que por pouco tempo.
Há esperança para as experiências educativas de sucesso, os professores carolas, os bons projectos...
Há esperança.


(Mas não pode ser neve de pouca dura... que derrete em menos de nada. Não pode.)

Nos-tal-giaaa...

Copiei o título deste fio de seda, que vos deixo hoje aqui, de um "post" colocado ontem num blogue muito especial:

Hora de Ponta

(e já aninhado ali do lado direito, junto ao coração da aranha... de onde nunca saíu.)

Foi assim:
Resolvi fazer limpezas de Inverno nas minhas caixas de correio do Eudora, que acumularam anos de conversa doce, mole e afiada, sem selecção da essência, mais por preguiça do que por necessidade. Nesse processo de apaga aqui, apaga acolá, guarda isto e aquilo, lá dei com os endereços da Elisabete e da Sara, ex-alunas, que estão agora com 19 anos e que não me perderam de vista, nem eu a elas. As nossas teias continuam enredadas.
Há muito que não nos falávamos e, de repente, ao encontrar mensagens antigas suas, tive a clara visão do que me estava a faltar neste sábado gelado. Apetecia-me algo (estava a apetecer-me algo, eu bem sabia... ) e era exactamente isto que me apetecia. Interrompi a tarefa (que deixou de ser rotineira para passar a ser um desfolhar de memórias), escrevi-lhes, divulguei o blog, enviei beijos e mimos.
A resposta foi imediata. O carinho devolvido a cem à hora... Há coisas que não arrefecem nunca!
Já sei por onde andam, o que fazem, o que sonham fazer. Este laço que nos une cresce em espessura, mesmo no silêncio, e cada contacto que se estabelece estreita o seu comprimento.
A Sara tem um blog muito especial, que não posso deixar de recomendar (o "post" de sábado foi dedicado à Teia...) e, suspeito, que um destes dias a Elisabete me vai deixar divulgar algo especial aqui...

E foi assim que o sol nasceu no final do dia, em vez de se pôr, tal como eu havia desejado e sonhado desde cedo.

Há dias assim... em que os sonhos se tornam realidade.

Em que o passado prova ser a semente de um futuro com sorrisos.




A imagem que aqui coloquei? A capa de um livro que fizemos nessa altura em Área -Escola (turma da Sara) e que foi mesmo editado em tipografia com o apoio/patrocínio das Escolas Promotoras de Saúde... (Só mesmo o ME é que acredita que são os despachos que fazem toda a diferença na coisa educativa...)

P.S. Estive sem Internet desde ontem ao fim do dia. Por um "milagre", acordei a meio da noite e... tinha acesso! Resolvi avançar, pois não sei se continuarei com ligação (obrigada Paizão pelo aviso colocado em "comments"). Ficam avisados: se me remeter ao silêncio, é porque me roubaram de novo a chave da porta do Mundo.

sábado, janeiro 28, 2006

Às avessas


Apetecia-me algo... (Não, não é aquele "doce" divino.)
Algo assim... diferente...
(Utopia? Acho que não...)

O que temos:
Cheguei ontem à escola bem cedo.
Procurei consolo num café quente e curto
para o dia longo.
A máquina conseguiu fazer-me rir. E pensar.
Ofereceu primeiro a colher.
Despejou lentamente o café.
Finalmente... deixou cair o copo.
(O dinheiro? Guardou-o para ela.)



O que acontece:
Beijei um príncipe
transformou-se num sapo.
Beijei o sapo
nadou um girino.
Dei-lhe um beijinho
ficou pequenino
e voltou a viver
dentro do ovinho.



O que me apetecia:

Apetecia que chovesse
de baixo para cima
na barriga das nuvens.
Apetecia que os rios
fugissem do mar
e caminhassem para montante
todos juntos
para ver
onde conseguiam chegar...
(para variar?)
Apetecia um dia a começar no pôr-do-sol e a terminar com ele a nascer no mar.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

A Escola (da) Vida - 3

Eles andam por aqui. Os meus alunos.
E o que aqui teço tem dupla função. (Dupla responsabilidade?)

Teço o que quero, como acho que quero. Embora sem certeza do que quero.
Teço-me a mim diante dos seus olhos e espero, também aqui, cumprir a missão de partilhar com eles o que sou. O que é importante para mim. O meu gosto especial pela melodia das palavras e pelas coisas bonitas que o Universo oferece.

E é no retrato humano que aqui vêm beber, com todos os defeitos e virtudes dos retratos humanos, que se esconde o que mais querem aprender, o que mais querem saber: a certeza de que os professores são gente real, como eles. Que, como eles, têm dúvidas, receios, preocupações, vontade de aprender. Livros preferidos, flores preferidas, animais de que gostam.
E na ânsia de entender, precisarão de ler, de descodificar uma mensagem que nem sempre é simples. E, por vezes, quererão nos seus espaços (que neste século pode ser um blogue... já há cerca de 9 numa das turmas) brincar imitando as ocupações de adulto. De um adulto que assuma algum significado nas suas vidas. Como sempre se fez. Não é por acaso que deixo aqui pequenos rastos de seda que podem seguir, pequenas pistas que podem explorar. (Ontem o Miguel falava entusiasmado do texto sobre as chinchilas... Gostei muito professora! Eu gosto muito de animais!)

E já nem sei qual delas é a melhor lição, se esta aqui, se a das aulas na Escola.
Embora ache que tento transportar para a escola tudo o que aqui vêm encontrar de mim. E é na escola que estou com eles, que é aquilo de que mais gosto nela e me faz levantar bem cedo para tentar alongar de forma mágica o pouco tempo dos dias. Assim posso também conseguir o meu tempo para ser e fazê-lo conviver com o tempo de dar. (Se eu não conseguir construir algo meu nos dias, não lhes poderei oferecer nada de mim.)

O tempo dirá. Ditará em que medida esta parte do tempero que procuro oferecer à receita dos dias, acrescentou algum sabor à vida das meninas e meninos que me vão sendo confiados.
E o ciclo fecha-se. Tal como no mundo das chinchilas, tudo o que faço é abrir portas, amparar quedas, encorajar, mostrar caminhos, consolar tristezas, fazer coisas, muitas coisas, à vista dos seus olhos. A escolha é e será sempre deles. Apenas deles.

A escolha é vossa.


Voltem sempre. Gosto muito de vos ter por aqui.
(Há néctar que chegue para todos.)


(E, sempre que quiserem, estejam à vontade para deixar aqui as vossas impressões digitais...)

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Escola (da) Vida - 2


(...) Deixei de acreditar que as “escolas”, por muito bem organizadas que sejam, constituam os únicos locais adequados, ou os melhores para que este processo (aprendizagem) aconteça. Tal como escrevi em Instead of Education e em Teach Your Own, salvo raras excepções, o conceito de locais de aprendizagem, onde nada acontece a não ser aprendizagem, já não me parece fazer sentido algum. O local mais adequado e o melhor lugar para as crianças aprenderem tudo o que precisam ou querem aprender é o local onde quase todas as crianças aprendiam, até há bem pouco tempo – o próprio mundo, e no seio dos adultos.
Devíamos instalar em todas as comunidades (talvez em antigos edifícios escolares) centros de recursos e de actividades, clubes e outros locais onde pudessem ocorrer muitas espécies de coisas – bibliotecas, salas de música, teatros, instalações desportivas, oficinas, salas de conferência, que estariam abertas ao público e seriam usados tanto pelos jovens, como pelos mais novos, como pelos mais velhos. Cometemos um erro terrível quando (com a melhor das intenções) separámos as crianças dos adultos e a aprendizagem do resto da vida, e uma das nossas tarefas mais urgentes é derrubar essas barreiras e voltar a reuni-las (a aprendizagem e a vida). (...)

Será?

www: JohnHolt, Dificuldades em Aprender, Ed.Presença
http://www.holtgws.com/howchildrenfail.html


http://www.holtgws.com/johnholtpage.html


http://www.naturalchild.com/guest/marlene_bumgarner.html

http://www.educationreformbooks.net/failure.htm

http://www.context.org/ICLIB/IC06/Holt.htm

http://www.bloomington.in.us/~learn/Holt.htm

Já agora... há quem tente voltar a reunir as chinchilas com a vida no habitat natural. Mas as domésticas são, depois de gerações de cativeiro, demasiado frágeis para tal.

Por isso, que tal proteger o habitat e mantê-las por lá, para que continuem a evoluir na capacidade de sobreviver nesse mundo que é o seu?


Fotos de Roland Seitre (Save the Wild Chinchillas)
http://www.wildchinchillas.org/
Our goal is to restore essential habitat for endangered chinchillas (C. lanigera) while dissuading habitat degradation in this ecosystem. Specifically, we will focus on ecosystem restoration in Quebrada Cuyano utilizing native vegetal species, many of which, like the fauna, are endemic and of grave conservation concern.

(continua...)

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Escola (da) Vida - 1 a:)

"The only difference between a good student and a bad student, is that the
good student is careful not to forget what he studied until after the test."


John Holt


Será?




E hoje é o que há (curto, mas não pouco).
Amanhã regresso.

Nota: imagem recebida por e-mail... não sei quem é o autor, mas agradeço. Apetecia-me um sorriso.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Escola (da) Vida - 1

Já sabem das metáforas da casa. Não estranharão. Hoje vou falar de Chinchilas.
De um casalito peludo que se instalou por aqui, no acaso de uma loja que se desfez e as deixou sem abrigo, a passar de mão em mão. Até chegar a nossa vez de as acolher... para sempre. Já traziam nome: João e Maria.
As Chinchilas reproduzem-se. Não muito. Cerca de duas vezes por ano, às vezes uma. Têm o tempo de gestação mais longo dos mamíferos roedores: cerca de 111 dias. Nascem já com dentes, pêlo farto, cheias de energia, prontas para conquistar o difícil mundo do seu habitat natural. Coisas da evolução.

www: Quinta dos roedores do Sapo

www: Coisas de Chinchilas

www: Crystal Chinchillas

www: Chinguide


Observar os progenitores com as crias, na garagem que se tornou o seu habitat (onde vivem em liberdade, por entre troncos, espaço amplo, e uma mesa de marcenaria, que tem no topo a larga gaiola sempre aberta e com caminhos preparados para que lá cheguem com facilidade) tornou-se numa fonte de reflexão sobre os processos de aprendizagem na Escola (da) Vida.

Vejamos então:

A Maria e o João precisam de ensinar às crias os percursos do habitat artificial, de forma a que percebam como chegar ao piso intermédio (lá encontram a banheira com a areia onde se rebolam para limpar o pêlo) e, depois, como aceder ao piso onde está a gaiola sempre aberta (com comida e água).
Fazem-no aproximando-se repetidas vezes da cria ou crias (com sons especiais) e indicando-lhes exactamente o que devem fazer, fazendo-o elas próprias, por pequenos passos, nunca explicando todo o percurso de uma só vez, mantendo-se à vista e regressando sempre, se a cria não percebeu o que era pretendido.

As "explicações" reduzem-se ao primitivo(?) e instintivo exemplo que o corpo pode dar, levando-as progressivamente a ganhar a confiança suficiente para ir vencendo cada etapa. O contacto, a proximidade são frequentes. Não há lições à distância.

As crias não aprendem todas o mesmo ao mesmo tempo. Casos há em que coexistem duas crias com capacidades de aprendizagem diferentes. Uma deixa-se atrasar, não encontra os caminhos com facilidade, a outra aprende rapidamente o que tem para fazer. Como não estou sempre presente, não sei como se atenuam as diferenças, mas sei que todas acabam por aprender tudo o que é preciso aprender, ao fim do tempo certo, e todas ficarão aptas a abandonar o ninho na altura devida (quanto mais crias, mais tempo necessitam de ficar com os pais - a atenção dividida tem os seus custos).

Suspeito que a paciência dos progenitores, o desejo de "fazer aprender" (mais do que ensinar) fará a diferença necessária entre a vida e a morte no habitat natural, e que as desigualdades vão acabando por desaparecer devido ao empenho instintivo dos progenitores que desejam assegurar, a todo o custo, a sobrevivência da espécie. Ou talvez porque se trata aqui de aprendizagens significativas, com utilidade visível. Porque a proximidade e persistência tornam o ambiente securizante e estimulante, permitindo ultrapassar os obstáculos sem receio. Será?

Tudo em nome da sobrevivência da espécie. (Da sociedade que integram (?))

(Até que o Homem engane as probabilidades, as cace até à exaustão e as transforme numa espécie em vias de extinção no habitat original... o que aconteceu de facto. O Homem... esse ser estranho que não encara a educação/formação como a única salvação do futuro comum. Do seu futuro.)

(continua)

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Estarei aqui...


... enquanto precisares de mim.




Veio ter comigo um destes dias dizendo: Oh professora, tenho uma coisa para lhe dizer, mas não é para ficar chateada... eu ontem tinha teste a Ciências, mas não estudei e depois faltei à aula.

A nossa história comum já tem bom tamanho - quase dois anos. Não poderia contá-la aqui.
Sabia que o certo era esperar, antes de ralhar ou pedir mais explicações, portanto perguntei apenas: e agora, como vais resolver a situação?

Eu já falei com a professora de Ciências e ela vai dar-me outra oportunidade.

Suspirei interiormente. Era exactamente o que eu lhe ia sugerir.
Como tu cresceste nestes quase dois anos em que tenho sido tua Directora de Turma (só pensei), sabia que podia confiar no que já construímos juntos. Disse apenas: fico contente por saber que já consegues pensar sobre o que fazes e tomar depois sozinho as decisões para corrigir o que não vai correndo bem. Isso é muito importante e só prova que tens crescido.

Ele ainda acrescentou: Ah, é mais uma coisa, já sei o que vou escrever para "aquilo" (o blog) da turma. É o poema que recitei na festa do ano passado e mais outra coisa. E faço um desenho também.


Se soubessem quem ele é, como ele foi, percebiam a enorme e quase mágica importância de tudo isto.
Mas só podem deitar-se a adivinhar.

(Acreditem em mim. É possível. Às vezes é.)




Vale a pena ir até à SALA 16 ver o muito que se tem tecido por lá...

domingo, janeiro 22, 2006

Laços


Não são visíveis. Não dependem da presença, da forma, da cor.
Há-os antigos. Há-os recentes ainda finos e longos. Há-os com dimensões médias em laboração. Em geral, quanto mais antigos, mais curtos e fortes. Esta regra parece servir a Amizade-Amizade mas encontra a sua mais evidente excepção na Amizade-Amor. É que pode acontecer o mais curto e espesso de todos os laços prender-se à Meia-Laranja, Cara-Metade, Alma Gémea...
Esse laço especial (que tem só um pouco mais de metade do tempo da minha vida toda), pode ir, por exemplo, daqui até França, como a pulga que salta da balança, embora seja a espessura que é infinita e não o comprimento. (O Comprimento? Coincidência no espaço e no tempo. O Amor é elástico.)

Os laços existem, pois, em todos os comprimentos e em todas as espessuras possíveis e impossíveis. Não se vão quando vamos, quando alguém já não está. Permanecem presos à teia da saudade, que é assim uma forma que temos, em português, de traduzir a vontade de encurtar as distâncias que vão de nós até aos outros que nos completam, quando eles não estão exactamente aqui à mão de semearmos neles qualquer coisa boa. Quando os laços vão de nós até ao céu, cresce outra saudade diferente dentro dessa primeira saudade. Mais feita de memórias que ajudam a suavizar a tristeza da transparência (sempre) presente no outro extremo do laço.

Hoje apeteceu-me só isto: lembrar todos os que moram no outro lado de todos os meus laços (aqui na terra e também no céu).
E nessa lembrança incluo alunos passados e presentes (o Professor tem, por vocação, mais espaço para prender laços... mais área na alma para os acolher. E tem um novelo de seda renovável.)

Para ti, além da lembrança, segue um beijo
com Amor
Teresa

(Nem o Fernando Pessoa se surpreenderia com cartas de amor escritas que viajam sem a demora dos selos, num instante quase instantâneo, de país em país. Ele, pela sua natureza de poeta, esteve sempre aberto a todas as possibilidades... mesmo que essas possibilidades lhe parecessem estranhas e até ridículas. Outros lhe seguissem o exemplo. Os laços que lançou conquistaram-lhe o direito à eternidade na memória colectiva, pelas razões certas.)

sábado, janeiro 21, 2006

Hoje acordei e...

Sick

by
Shel Silverstein

"I cannot go to school today,"
Said little Peggy Ann McKay.
"I have the measles and the mumps,
A gash, a rash and purple bumps.
My mouth is wet, my throat is dry,
I'm going blind in my right eye.
My tonsils are as big as rocks,
I've counted sixteen chicken pox
And there's one more--that's seventeen,
And don't you think my face looks green?
My leg is cut--my eyes are blue--
It might be instamatic flu.
I cough and sneeze and gasp and choke,
I'm sure that my left leg is broke--
My hip hurts when I move my chin,
My belly button's caving in,
My back is wrenched, my ankle's sprained,
My 'pendix pains each time it rains.
My nose is cold, my toes are numb.
I have a sliver in my thumb.
My neck is stiff, my voice is weak,
I hardly whisper when I speak.
My tongue is filling up my mouth,
I think my hair is falling out.
My elbow's bent, my spine ain't straight,
My temperature is one-o-eight.
My brain is shrunk, I cannot hear,
There is a hole inside my ear.
I have a hangnail, and my heart is- what?


What's that? What's that you say?
You say today is. . . Saturday?

G'bye, I'm going out to play!"


http://www.poets.org/viewmedia.php/prmMID/16480
Shel Silverstein

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Na moda
























Confesso que comecei por copiar o NCTM, que na sua

Loja

tem "produtos" de propaganda... à Matemática! (Estes americanos...)

Como muitas das resistências à disciplina são de natureza psicológica, psiquiátrica (nos casos mais graves), sentencial, genética, irracional, ancestral, vísceral ... (continuem vocês...) , achei que era engraçado, um dia destes, colocar uma t-shirt 100% matemática, usar uns post-its I love math, uns blocos a condizer Do Math, and you can do anything... (Só não o fiz ainda, porque a encomenda feita à NCTM se atrasou.)

Mesmo assim, começou a germinar em mim o rebento de uma ideia que partilhei com os alunos (tenho dificuldade em me manter calada...). (Em simultâneo, acreditem, também germino rebentos de alfafa num germinador pequeno que me foi oferecido e depois como-os. As ideias empilho-as e vou dando despacho.)

Entusiasmo geral! Querem organizar uma campanha de marketing a favor da Matemática... querem, porque querem, fazer T-shirts com frases apelativas. Tudo isto em Área de Projecto, claro.

Para além das ideias copiadas da NCTM: Math multiply your options, I love Math, Do Math and you can do anything, Math, your key to the future, já estou aqui a congeminar outras parecidas e vou desafiá-los a fazer o mesmo. Sinto-me um pouco como se estivesse a temperar a Matemática com morangos e açúcar, pondo-a na moda de forma algo fútil e banal.

Mas... depois de um primeiro peso na consciência, por causa da sobremesa escolhida, afastei o pesadelo da culpa! Pelo menos para estas crianças pode ser que fique uma recordação engraçada. Se, por um milagre, cada um tiver 4 filhos... sempre serão uns quantos a escapar-se à fúnebra frase: oh filho, deixa lá, os pais também não gostavam de matemática...

Quem sabe lhes dirão, em vez disso: oh filho, vais ver que a Matemática é divertida e faz falta! Mais divertida do que uma coisa que tenho ideia que passava na televisão nessa altura e de que não lembro o nome, porque andávamos entretidos com os números lá na escola...

(Always look at the bright side of life... sem esquecer os assobios que acompanham a melodia.)

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Pro(fessor)vérbios


Dia a dia, tece o Professor solidão e companhia.

Professor que só espera, não alcança. (Desespera.)

No meio do Professor, é que se tece a alegria e a dor.

Para bom Professor, meia palavra de aluno basta.

Quem tudo quer do Professor, mata aos poucos o amor
(tudo perde?).

Professor: mais vale acompanhado do que só.

O Professor não morre de velho.

A palavra do Professor é de ouro. O silêncio é de prata (e mata).

Quem só vê caras de Professores, não consegue ver corações nem dores.

Omoletes sem ovos, pão sem farinha, só o Professor os cozinha.

Professor e Escola não querem gaiola.

Professor que tece por gosto, também se pode cansar.
(É melhor não arriscar.)

Missão de professor: aprender até morrer.
Professor que tece, é porque lhe apetece

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Reticências

Pronto .
Tenho de colocar um "pronto" final na partilha de ramos de flores.
Agora mesmo, acabou de chegar a

Rita

Bateu-me à porta do e-mail e disse: já estou aqui.
E, mais uma vez, a surpresa da diferença. A Rita no seu melhor, como sempre!
Onde vão eles buscar isto tudo?

Desculpem-me lá meninas e meninos, mas já me conhecem! O tempo não chega para tudo! A partir de agora, quem for chegando, vai ali para o lado direito, para o lugar que vos cabe na teia. Um lugar bem pertinho do coração da aranha, que não faz mal a ninguém.

(E a quem aqui chegar, já sabe: o milagre das rosas conta-se ali ao lado.
E já nem é milagre.
É coisa real.)

Mais flores

Contagiante...

Epidemia? Multiplicação das Flores? Milagre das Rosas?



Aqui fica mais um sítio especial.
Imaginem um aluno no 6º ano... com 1o anos. Capacidades excepcionais para a escrita (algures no percurso escolar - aceleração curricular). O que nos temos divertido na turma, com as histórias que cria assim de repente a partir de um quase nada, com a forma como as partilha connosco em Estudo Acompanhado, onde, por vezes, fazemos sessões de indução de escrita criativa.

Não fizemos qualquer Plano de Desenvolvimento formal (chega de papelada!!) como o ME quereria (a família não precisa de saber o que já sabe e sempre soube, para acompanhar com carinho e atenção o percurso).
Mas conversámos sobre blogs na aula de Estudo Acompanhado e na aula de Área de Projecto (o dele estava criado, mas não conseguia lá voltar e não sabia porquê... mistério resolvido, tinha esquecido o username). Reflexão sobre o propósito, sobre a forma, sobre as ideias. Encontrou o melhor nome possível para o seu recanto literário:

Textívoro

Este blog que aqui vos deixo, os comentários que vocês lá colocarem, o estímulo e o desafio que lhe oferecerem, será o melhor Plano de Desenvolvimento que ele, o Escritor95, poderá ter.
Vão até lá e descubram o sabor bom de saber que as palavras portuguesas já estão em muito boas mãos...
(Os melhores projectos humanos surgem de forma natural e doce, sem contrato escrito, que o Amor não é para assinar.)


Preparava-me para tornar público mais este fio de seda e... eis que surge nova flor...
Desta vez era a Ana, alma de matemática (onde se move como serpente, conjecturando, testando, verificando, inventando) para quem os textos têm mais mistérios que os números.
Faz , no espaço muito seu que acabou de criar, a opção inteligente de quem gosta de os ler (aos textos), mas adia o momento da escrita: cita escolhas que fez com uma intenção onde também colocou carinho e uma mensagem especial...
E eu gostei. Muito.


Ana




Ainda bem que o jardim, no ano que passou, se encheu de rosas inglesas do David Austin (perdi-me de amores e encomendei-as faz tempo) ... acho que tenho fotos que cheguem para o que vem por aí.
É bom ser optimista e descobrir que temos razão.

E, já agora, a turma D (a que pertencem a Marta, o Escritor95 e a Ana) finalmente tem o seu blog esboçado, que dá ligação aos blogs individuais (assim se decidiu, assim se fez). É só um embrião... mas não é assim que tudo começa?

Dia D
porque todos os dias são importantes...

Quanto à
Sala 16 ... está-se bem lá!
Hoje divulgaram a saída do jornal da Escola.

(Os alunos estão a ganhar o hábito de vir até aqui e deixar recados e pedidos de ajuda. Curioso... não escolhem o último post, mas sim aquele que sentem mais como seu: o que divulga os seus projectos para as T-shirts e o trabalho de Área de Projecto - A saúde no centro das atenções.)

Os erros ortográficos, as dificuldades de escrita, outras fragilidades na organização de ideias, começam a tornar-se evidentes. Compilei comentários. Havemos de os corrigir, de os melhorar. Havemos de fazer o que for possível fazer.

Enquanto for possível.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Flores...


Antes de ir dormir, vim aqui.
Tinha uma mensagem da Marta (6º ano) e fui onde ela me sugeriu que fosse.

Eu quero ser diferente

Surpreendi-me pelo simples facto de algumas flores crescerem muito depressa.

Continuo a acreditar nesta geração. Está tudo dentro deles. Só precisam de minutos nossos.

Temos de continuar a conseguir
a dois tempos paralelos:

- reivindicar, criticar, lutar pela justiça dos dias, pela dignidade da profissão, pela lógica perdida;

- não os perder de vista, não esquecer que precisam de nós, não os ignorar com a desculpa de que estamos a acautelar o seu futuro e é por isso que nos ausentamos.

Não é tarefa fácil.

Mas é um pouco como pensar que é uma pena as rosas terem espinhos e, logo de seguida, corrigir com alegria:

que coisa boa os espinhos terem uma rosa!

Tudo tem de conviver lado a lado no exercício da cidadania. O Professor tem de ser o exemplo dela. De todas as formas.

Menos do que isso, é nada.

O que fica



Tenho, no meu jardim, metáforas para tudo. Não as planto nem semeio de propósito, mas crescem como evidências que apetece fotografar e guardar.

O que fica de nós quando partimos?

A memória do que deixámos espalhado pela casa.
As pegadas no coração dos outros.
Impressões digitais que não desaparecem, nem se conseguem limpar.

Vivemos sem luvas pela vida. Deixamos marcas em todos os lugares. A cor e forma das marcas depende dos caminhos escolhidos. Dos caminhos percorridos.
Os Professores vivem um bocadinho mais do que os outros, até que o último aluno se tenha ido também. Talvez um pouquinho mais ainda, se esse aluno contou uma história a um filho.
(Sabem, o meu pai falava-me de um professor que teve...)

A eternidade não dura mais do que isso. Ou dura?

Ninguém sabe responder. É tudo uma questão de fé.

Na dúvida, escrevem-se livros, pintam-se quadros, fazem-se filhos, fazem-se blogs...
(Assusta-nos um vazio longo sem nós?)
Andamos todos em busca de um bocadinho mais de eternidade.

(E será a Internet eterna?
Poderemos, através dela, viver felizes para sempre ?
Deixar de precisar da invisibilidade e fragilidade da memória dos outros?)

Enquanto as respostas não chegam, vou oferecendo sementes aos alunos, ao meu jardim, ao coração de quem se deixar semear.
Provavelmente (com excepção do jardim) não estarei cá para ver as flores inesperadas.

A louca da casa


"A imaginação é a louca da casa"
Sta Teresa de Jesus

Já perceberam que gosto de palavras. Que as saboreio como cerejas doces.
Podem ser palavras de qualquer cor, de qualquer tamanho.
Só precisam de ser palavras tecidas com o encanto das notas nas melodias que nos fazem sentir bem.
E hoje podem ser umas, amanhã outras, porque a vida também não é sempre igual. Nem nós.

Hoje, nem sei porquê, lembrei-me de Rosa Montero.

"(...) O envelhecimento é um processo orgânico lamentável que tem apenas duas coisas boas (a primeira é que, se nos esforçarmos, aprendemos algumas coisas; e a segunda, é ser a melhor prova de que ainda não morremos) e muitas outras péssimas, como, por exemplo, os neurónios destruírem-se às mãos-cheias, as células se deteriorarem e se oxidarem, a gravidade puxar o corpo em direcção à terra-campa enfraquecendo os músculos e dependurando as carnes. Pois bem, a todos esses pesares, e a outros que não cito, é possível que também se some um fastio acabrunhante de realidade, a perda progressiva da nossa capacidade de fantasia, o anquilosar da imaginação. Ou, o que dá na mesma, a morte definitiva da criança que trazemos no nosso íntimo. Tornamo-nos velhos por fora, mas também por dentro; e deve ser por isso que os leitores, à medida que crescem, vão deixando maioritariamente de ser leitores de romances e derivam para outros mais instalados no realismo notarial, a biografia, a história, o ensaio. Este emurchecimento senil da imaginação (da criatividade) pode acontecer-nos a todos, mas se somos romancistas ficamos duplamente acabrunhados, porque neste caso ficamos sem trabalho. Então a louca da casa, farta do nosso desprezo de velhos tontos, vai-se embora com o tio Celerino à procura de cérebros mais elásticos. Para escrever, em conclusão, convém continuar a ser criança nalgum lugar de nós próprios. Convém não crescer demasiado. (...)"


Rosa,

para se ser Professor, também.




P.S. É necessária uma interrupção de realidade nas palavras da Rosa: já estou a ouvir o Cara-Metade, nas Terras do Rei Sol (tenho saudade, sabes? ainda faltam quase duas semanas...) a argumentar (e com toda a razão) que aquela coisa dos neurónios, das células, dos músculos, da gravidade, pode muito bem ser atrasada se nos dermos ao trabalho de fazer exercício regular, se nos alimentarmos como deve ser, se exercitarmos o cérebro e se nos preocuparmos racionalmente apenas na conta devida para encontrar soluções, sem nos perdermos na lamúria vaga e sem destino.
Por outras palavras, temos na mão alguma da oxidação, alguma (muita) da firmeza, do contrariar da gravidade, da vida/morte dos neurónios.

Está feita a interrupção. E eu acredito no que ele pensa e diz.

Portanto, vou andar um pouco de bicicleta, tomar umas vitaminas e um bom pequeno-almoço.

A seguir vou estimular os neurónios na preparação da oficina de matemática e na preparação de materiais para as aulas... e pensar no blog da Sala 16 e no do Dia D (não é que os miúdos viram o dos colegas e também querem fazer um!? Epidemia contagiante, esta!).

(Ocorreu-me agora, não contem à sra. Ministra que eu estou aqui... ela pode achar que, apesar de tudo, ainda me sobra muito tempo e arranjar-me mais coisas para fazer. Cruzes!)

segunda-feira, janeiro 16, 2006

How Children Fail - I


Já vos falei , de passagem, em Jonh Holt (a propósito do Santo Graal).

Ele:
é quem me empurra, se me deixo ir ficando para trás;
é quem me sacode, quando a dormência se quer instalar;
é quem me acorda, quando o sono se torna muito pesado;
é quem (re)põe os alunos no centro da teia.

Obrigada John, por nos ires lembrando.

"(...) Se as crianças se preocupam tanto com o fracasso, não será porque se importam demasiado com o sucesso e dependem muito dele? Não haverá, de uma maneira geral, demasiados elogios em relação ao bom trabalho nos anos mais elementares? Se, quando o Johnny faz um bom trabalho, o fizermos sentir "bem", não podemos estar, sem intenção, a fazê-lo sentir-se "mal" quando faz um trabalho errado?
As crianças precisam mesmo de tantos elogios? Quando uma criança, depois de uma longa batalha, consegue finalmente fazer o puzzle do cubo, precisará mesmo que lhe digam que fez bem? Ela não saberá, sem que lho digam, que conseguiu fazer uma coisa bem feita? Na verdade, quando a elogiamos, não estaremos, talvez, a intrometer-nos no seu trabalho, roubando um pouco da sua glória, imiscuindo-nos no seu sucesso, fazendo elogios a nós mesmos por termos ajudado a fabricar uma criança tão esperta? A maioria dos elogios que os adultos fazem às crianças não será uma espécie de auto-elogio? Estou a pensar naquela maravilhosa composição que Nat escreveu sobre a sala de jantar da sua casa. Ao pensar nessa composição, vejo agora, para meu horror, que estou realmente a congratular-me pela participação que tive nela. Como ele é um rapaz inteligente! E que homem inteligente que eu sou por ter tomado parte do seu desenvolvimento!(...)"

Havemos de regressar a ti, um destes dias.

How Children Fail
John Holt
1964/1982

Dificuldades em Aprender
John Holt
Ed Presença 2001

domingo, janeiro 15, 2006

Como saber?

Como saber que estamos um pouco mais perto do destino?

Quando hora e meia passa depressa e se ouve (sabe tão bem ouvir) “O quê? Já?”.

Quando a Matemática passa de filme que nos aterroriza, a filme de aventuras preferido, onde queremos entrar como actores.
Quando o Miguel, sorrindo misteriosamente, comunica à turma que tem uma resposta diferente para o problema que acabámos de resolver do telefonema de Nova York para Lisboa (onde se pretendia saber as horas que seriam quando o Sr. Amaral atendeu, em Lisboa, a chamada do Sr. Morris): Era difícil ele atender o telefone exactamente a essa hora, a não ser que estivesse sentado mesmo ao lado do telefone... normalmente demoramos mais e a resposta dependia disso. Cá para mim era melhor mudar a pergunta para: “A que horas tocou o telefone?”
Quando o António, no problema do autocarro, contabiliza o esquecido (até por mim) motorista, ao responder à questão “Quantas pessoas foram transportadas naquele percurso?”
Quando a Rita deixa escrito no teste Professora, eu fiz este problema, mas o resultado não faz sentido! A menina não pode ter este peso. É impossível! Isto está errado mas já não tive tempo de o fazer outra vez...
Quando a Cátia, sem se lembrar de que para achar uma certa despesa bastaria multiplicar o preço unitário pela quantidade de produto adquirida, desenvolve um processo lógico mais demorado, mas chegando à solução correcta sem desistir (1m custa 2€... 3,5m custa quanto? Ora, 3m custam 6 €... se 0,5m é meio metro e custa 1€, logo a despesa deve ser 7€)
Quando o João corrige erros no Manual, depois do professor informar que existem e os desafiar a procurá-los numa determinada página.
Quando a Maria (a repetir o 5º ano, e que diz muitas vezes de si própria que é burra) ultrapassa autonomamente as dificuldades de procedimentos de cálculo, depois de lhe ter sido finalmente provado que ela era inteligente e capaz de resolver problemas complexos... só se enganava nas contas.
Quando os dedos se agitam no ar para explicar, para perguntar... Quando já não se desiste das tarefas. Quando nos apetece mais e pedimos mais. Sempre mais e nunca menos. Quando nos sabe bem a todos ir para a aula. Seguir em frente. Fazer “coisas” difíceis...
Quando...


Na Matemática, na Educação, na Vida, na Natureza de que fazemos parte... tudo se parece reduzir simplesmente a uma forma de estar, uma forma de ser, uma forma de conseguir enfrentar com eficácia e alegria o desafio de caminhar, o desafio de viver. Que se pode partilhar. Que é possível aprender.
E nunca é tarde de mais para começar.

Haverá uma boa razão para começar já hoje?


Seremos todos mais felizes assim.


TMM

Excerto de um texto publicado no Correio da Educação,
CRIAP ASA, nº214, 28 Fevereiro 2005.

PISA e o Santo Graal do Sucesso

O Santo Graal por Dante Gabriel Rossetti em 1860


Onde se esconde a solução ou parte dela?

No blog OS (IN)DOCENTES vale a pena ler o post PISA e Finlândia e aceder às ligações que contém.
Já o fiz, imprimi tudo e agora vou ler com calma (material óptimo para a Oficina de Matemática - é pelo PISA que pensamos começar...).

Mas isto não chega.

É difícil ir muito mais além, pois não é possível aceder (eu não consegui, alguém consegue encontrar?) a materiais usados nas aulas na Finlândia, textos orientadores, indicações pedagógicas precisas, materiais didácticos para as disciplinas. Consegui o currículo nacional deste país (obrigada Teresa L. Talvez uma Península), mas ainda não é suficiente.

Foi por isso que, há uns anos, quando me apercebi de que o Ontário estava na lista dos primeiros do PISA, embarquei numa busca pelo Graal por terras do Canadá, que é como quem diz, naveguei no ciberespaço muitas horas (a propósito de outra oficina que havia construído e ajudei a dinamizar).

Resultados?

Não encontrei o Santo Graal, mas cresci muito como professora desde essa altura (e desde que li um certo livro de John Holt... mas lembrem-me de vos contar esta história noutro dia, para não me perder).
A verdade é que o Ministério da Educação do Ontário tem um acervo na 'net impressionante e confesso que tenho em casa uns quantos dossiers, dos grandes, cheios de material que me tem sido muito útil na prática lectiva e na reflexão sobre ela (refiro-me, sobretudo, ao ensino da Matemática, embora o material disponibilizado seja para todas as disciplinas e áreas).
O apoio dado ao trabalho do professor por este Ministério na sua página é variado e abrangente. Aqui só vou deixar umas migalhas... o resto fica por vossa conta.

Um aviso:A busca do Graal é algo muito pessoal e faz-se na solidão dos dias, na partilha com os outros (alunos e professores), no decorrer dos anos, amadurecendo, experimentando, reflectindo.

As únicas etapas que vos posso queimar são as horas gastas em algumas viagens pela 'net, apontando-vos a direcção exacta, o caminho mais curto, o X deste mapa de que vos falo aqui hoje (haverá muitos mais mapas por aí...).

O que cada um de nós consegue fazer com o tesouro que encontra... é outra questão completamente diferente!

Ontário:

Currículo Nacional

Literacia e Numeracia

Ferramentas para o Professor

Estratégia para o Sucesso


Parece pouco, mas é um universo a explorar.

Por entre o muito disponível, vejam alguns exemplos do que falo, e que podem ser encontrados dentro dos "links" anteriores:

Teaching and Learning Mathematics – The Report of the Expert Panel on Mathematics in Grades 4 to 6 in Ontario, 2004 (existem dois documentos semelhantes a este, um para o 1ºC e outro para o 3º. Vale a pena ler)

E, em escadinha descendente, alguns exemplos mais específicos do que se pode encontar dentro do Currículo:

Elementary Mathematics - The Ontario Curriculum (por anos)

Mathematics - The Ontario Curriculum – Exemplars Grade 5

Teacher Package
Samples/Level1
Samples/Level4
Tudo gotinhas num oceano vasto. Há que explorar...
(Podem, também, encontrar-se muitos documentos destinados a ajudar os pais a acompanhar o percurso escolar dos filhos e outros textos diversos, de carácter mais genérico, para todos os envolvidos.)
Boas aventuras!

Uma nota (um desabafo?) - Este ano estou a ter muita dificuldade em encontrar o tempo necessário para a auto-formação que tanto prezo e que me tem sido tão útil para crescer como pessoa e professora. Gastava eu tempo da componente individual nesse projecto pessoal de crescimento, porque sabia que o ECD assim mo permitia. Agora parece que só me permite fazer o essencial "da coisa". Ver uns testes, preparar umas aulas de variadíssimas coisas (entre elas a Matemática, que parece que é muito importante), dar aulas, ser Coordenadora dos DTs sem horas de redução, ser DT, dar Apoio de Matemática (que substituíu as aulas de substituição), frequentar reuniões intermináveis de Conselho Pedagógico, reuniões de DT, reuniões com Pais, reuniões de Departamento, reuniões de Grupo, reuniões de Conselho de Turma, frequentar uma Oficina de Matemática... enfim, parece um exagero, mas é exactamente a minha vida este ano (sou das que tem, ainda, apenas 2 tempos de redução do ECD). Talvez por isso estes fins-de-semana sem descanso, para poder acrescentar saber e sabor ao ofício (e para ajudar a construir o blog dos meus meninos e preparar-lhes outros mimos). O futuro? Esse parece incerto. O pesadelo só começou agora... (Ainda tenho alguma energia acumulada de anos anteriores... chegará para quantos mais?)

Sete motivos e segurança...

Por todas as razões e mais alguma:

Sete motivos para um professor criar um blog

Ideias/Experiências/Educar para os blogues e pelos blogues...

Segurança na 'net... nunca fiando:

E-mílio o comissário de segurança da Internet

Em alerta! Segurança na Internet para Crianças

Passeios sem passos em dia de chuva.

BLOPEs

Os Prémios BL0PEs (um BLoPE é um BLOgue em Português ou Espanhol na área da Educação) pretendem divulgar e incentivar a utilização da importante ferramenta que é um blogue na área da Educação.

Aqui podem descobrir quem teve a ideia...


Aqui podem saber mais, votar e fazer bons passeios...

E a chuva continua.
O prazer que me dá ouvi-la cair.
O prazer que o Jardim sente e me segreda alto...

Os restos...

Domingo cinzento, este.

Acordei, já na cozinha, decidida a dar uma volta no frigorífico e a gastar criativamente o que encontrasse à minha disposição e precisasse de ser usado (prazos de validade são tiros na preguiça dos dias, imposição de um tempo que se esgota, aviso de que a vida não pode ser mais adiada...).

Com o último livro da Maria de Lurdes Modesto na mão (fotos lindas, vale a pena saborear com os olhos http://spg.sapo.pt/Xd4/623530.html) reinventei uma receita nele proposta.

E por que não segui eu a receita, tal e qual como ela deveria ser posta em prática?

Porque nunca consigo fazer tudo o que me dizem para fazer.
Porque o que tinha à mão não era o que ela queria que eu tivesse, nem o que eu queria ter.
Porque também me agrada, e é preciso, o experimentar, o risco, o sabor da coisa por descobrir.
Porque não tinha o tempo que era necessário.
Porque, apesar de tudo, achei que era possível.

E dei comigo, enquanto sujava a louça nos preparativos, a pensar nas coisas da educação. No quanto a cozinha, laboratório de cheiros e sabores, se assemelha à escola. No quanto o ofício de cozinheira(o) de trazer por casa se assemelha ao de professor.
Hoje encontrei ovos por aqui... dias há em que se tem de inventar uma omelete de água.

Com tofu, cenoura ralada, alho francês congelado, ovos que encontrei esquecidos num cesto, um requeijão quase antigo, cebola, alho, farinha integral, azeite, manteiga, sal, pimenta, noz moscada, leite de um pacote aberto há tempo, fiz uma espécie de tarte, ou bolo, nem sei bem.
Tudo misturado com a (des)ordem mais adequada, dentro do possível.

Acabou por ficar delicioso.

Por vezes acontece. Mas não apetece sempre.
Sabia bem ter à mão ingredientes de qualidade. Utensílios mais modernos. Um aquecedor na cozinha. Alguém que ajudasse a lavar a louça.
À vezes, na cozinha, encontro (coloco) tudo isso. Porque é preciso intervalar a luta com o requinte de um pequeno luxo.
Aqui em casa eu decido quando quero aproveitar, quando quero criar, quando preciso mesmo de ter.
E na Escola?

Pequenos gestos culinários pontuais de improviso não garantem o sucesso da Escola como um todo.
Não garantem a generalização da excelência.

Tal como na cozinha, quando o cansaço se instala, quando o tempo já não chega e a vontade é nenhuma... a "fast-food" abre o seu plástico e imediato caminho.

E, depois, morremos todos mais cedo.
(De uma forma, ou de outra)

E, depois, o futuro não chega nunca mais.

Foto da escola EB2,3 de Luísa Todi, Setúbal - Outubro de 2005

sábado, janeiro 14, 2006

Comprimido: Azul ou Vermelho?

Vale a pena ler até ao fim:
http://www.jpands.org/vol9no3/goldman.pdf
estudo publicado no:Journal of American Physicians and Surgeons, volume 9 nº 3 , 2004
An Investigation of the Association Between MMR Vaccination and Autism in Denmark
de
G.S. Goldman, Ph.D.
Co-founder/President ofthe and Editor-Medical Veritas International (MVI) in-Chief of , Pearblossom,Medical Veritas
F.E. Yazbak, M.D., F.A.A.P.
California. is the Founder/President of TL Autism Research,Falmouth, Massachusetts.
Correspondence Address:
G.S. Goldman, Ph.D.,, P.O.Medical Veritas International (MVI)Box 847, Pearblossom, California 93553.Telephone: (661) 944-5661; FAX: (661) 944-4483; Email: pearblossominc@aol.com

http://www.vaccinetwork.org/ :Il Journal of American Physicians and Surgeons nel volume 9 numero 3 del 2004 ha pubblicato uno studio dettagliato e curato contenente considerazioni sul legame tra vaccino antimorbillo-parotite-rosolia e autismo. I due autori, ricercatori e medici, Yazbak e Goldman (la url in cui potete trovare lo studio integrale è www.jpands.org/vol9no3/goldman.pdf) smontano pezzo per pezzo lo studio danese di Madsen et al. pubblicato nel 2002 che rigettava l'ipotesi di correlazione e pareva voler mettere una pietra sopra alla questione. Quello studio era diventato la bandiera dietro la quale era stata condotta la feroce battaglia al medico Andrew Wakefield, primo a pubblicare su casi clinici che mostravano il legame tra vaccino e autismo su Lancet. Lo studio del J. of Ph. and Sur. ora constata e dimostra errori statistici e di metodo che invaliderebbero l'intero studio di Madsen. Raccomandata la lettura del testo integrale dello studio.

http://www.wws.princeton.edu/
http://www.wws.princeton.edu/ota/disk3/1980/8005/800508.PDF
(excertos: Six nations provide compensation for vaccine injuries; Great Britain, Japan, France, West Germany, Switzerland, and Denmark. (...) Great Britain.The British compensation program is of recent origin, dating from theVaccine Damage Payments Scheme of April 6, 1979 (Barnes, 1980). The main impetus appears to have been the public controversy that had been going on for some years concerning pertussis (whooping cough) vaccination. No vaccines are compulsory in Britain, but pertussis and other standard childhood immunizations are recommendedby the National Health Service. In August 1973, the Association of Parents of Vaccine Damaged Children was formed and began to draw public attention to the issue of vaccine injury, most especially in relation to pertussis vaccination.The Association gave testimony to the Royal Commission on Civil Liability and Compensation for Personal Injury (The Pearson Commission), which was established to consider the problem.(...))

http://www.fda.gov/cber/vaers/vaers.htm (Vaccine Adverse Event Report System (VAERS) - organização governamental EUA)

http://www.hrsa.gov/osp/vicp/ (National Vaccine Injury Compensation Program (VICP)) - organização governamental EUA)

mais alguns:

http://www.vaccination.co.uk/
http://www.vaccination.co.uk/Information/Questions/tabid/56/Default.aspx
Tema actual, mas nunca discutido em Portugal.
Na Grã-Bretanha não é obrigatória a vacinação. Existe um Plano aconselhado pelo Estado, mas são os pais a decidir o que fazer. A decisão pode ser, simplesmente, cumprir o Plano de Vacinação, de acordo com a orientação dos médicos em quem confiam. Mas é fundamental que a decisão esteja nas mãos dos pais! As crianças não deviam ser impedidas de frequentar a escola por não estarem vacinadas e o Estado não se devia sobrepor à vontade das famílias nesta matéria. Deveríamos ser livres para escolher, baseando a nossa escolha na análise da informação séria disponível que esclarecesse os vários pontos de vista.

No limite, poderemos até decidir todos que queremos ser vacinados com todas as vacinas... mas temos de ser nós a tomar essa decisão.
Como podemos não questionar aquilo que somos obrigados a fazer?
Não somos tão condescendentes com outras questões...

Na impossibilidade de evitarmos as vacinas, preferimos "todos" não pensar muito sobre o assunto, ou saber apenas o que já nos disseram e repetimos como facto consumado. Fugimos destas questões por medo? Enterramos a cabeça na areia?
Esta parece ser, em muitas matérias, uma postura comum num país pouco habituado ainda a lidar com informação científica, ou a questionar o poder instituído e que, em certos assuntos, prefere a alienação ao debate esclarecido e fundamentado e à sanidade de um juízo informado.

Só posso partilhar, nada mais.
As conclusões que a minha busca de informação e o raciocínio já ditaram, a minha opinião sobre o assunto e as decisões que tenho tomado em coerência com aquilo que penso ser correcto, essas não as partilho.
Pretendo apenas pôr mais dados sobre a mesa, já que a única coisa que nos apresentam é uma das faces da moeda e cresci habituada a ir em busca da outra, para poder comparar as duas antes de decidir.

Se leram até aqui, e se a vontade de ir mais longe se instalou, então:

http://www.taps.org.br/vacinas.htm
É um portal de entrada para a mais variada informação sobre estas questões... com links a páginas de todo o mundo. Não "toldem" a leitura com o preconceito relativamente ao texto do primeiro endereço ser em português do Brasil... trata-se, na maioria das situações, de traduções de fontes de outros países (podem confirmar-se as fontes com facilidade, para comparar a tradução com o original). Os brasileiros têm um acervo enorme na 'net, pois dão-se ao trabalho de traduzir informação tornando-a acessível a todos... Já por cá... É bom podermos usar as páginas deles. Melhor ainda, dominar o Inglês e partir em busca dos originais...

http://www.vernoncoleman.com/vaccines.htm

Tudo isto é apenas uma gotinha de água...
Se estiverem mesmo interessados no assunto terão de ir bem mais longe.
(A viagem pelas duas faces desta questão está facilitada pela existência das auto-estradas virtuais... e decisões desta natureza não se tomam sobre o joelho.)

Só é preciso decidir a cor do comprimido que queremos tomar:
azul, ou vermelho?

http://www.arrod.co.uk/essays/matrix.php

Eu sei a cor que prefiro.

O Quê Que Quem...

Eugénio Roda e Gémeo Luís apresentaram o livro

O Quê Que Quem
NOTAS DE RODAPÉ E DE CORRIMÃO

Who's Who & What's What
FOOTNOTES & GRACE NOTES

na nossa escola, antes do Natal.

Entre muitas outras, escolheram as palavras que se seguem para nos falar dele:

É um livro para ler, reler, conversar, desconversar em voz alta, em voz baixa, em voz interior. É um texto marcado pela oralidade pelo prazer de lembrar, contar e inventar histórias. Histórias sobre e com a família. Parte da ideia de um dicionário que levanta questões em vez de as resolver. Num jogo divertido de palavras que convidam à sua substituição pelas do leitor.
É um livro que, não sendo de bolso, nos quer acompanhar para todo o lado e que nos pede para ser deixado por aí, pelo sofá, pela cozinha, pelo carro para ser reencontrado nos momentos mais inesperados.
É um daqueles presentes com que o Pai-Natal anda desejoso de aparecer em qualquer altura do ano.

Aqui fica um pouco do que podemos encontrar no interior:

Mãe é quem anda sempre a semear flores por onde passa.
Semear é dar o que queremos receber.
Querer é obrigar os desejos a fazer ginástica.


O QUÊ QUE QUEM-NOTAS DE RODAPÉ E DE CORRIMÃO
GÉMEO LUÍS (ILUSTRAÇÃO)
EUGÉNIO RODA (TEXTO)
EDIÇÃO BILINGUE (PORTUGUÊS/INGLÊS)
TRADUÇÃO DE ANA SALDANHA
EDIÇÕES ÉTEROGÉMEAS, 2005
COLECÇÃO PANORAMA IRREQUIETO


Pode ser encomendado através da FNAC, ou directamente à editora. Contacto: luismendonca@netcabo.pt

Gémeo Luís e Eugénio Roda são respectivamente pseudónimos de Luís Mendonça e Emílio Remelhe, ambos docentes na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.




Foi uma tarde e noite de festa, de partilha, de encontro, de risos e sorrisos.
Nós achamos que eles gostaram das surpresas preparadas pelo 6ºA, dos mimos e das perguntas de quem os apanhou ali à mão de semear e queria saber, afinal, o que está por detrás dos ofícios de escritor e ilustrador...
Fomos igualmente mimados pela presença, pela janela aberta, pelas prendas que nos deixaram, de todas as formas e cores.

Prenda é o que desenha um sorriso na alma de quem recebe.



Obrigada

(Para ficar a saber mais, ler a entrevista que divulgo no comentário)

sexta-feira, janeiro 13, 2006

O Gato que ensina gaivotas a voar...


“Sabe” dizia-me a mãe dela “Eu gostava que a Maria lesse mais... ela até escreveu um texto para Português a dizer que não lia muito, nem gostava muito de ler porque nunca tinha encontrado um livro que lhe tivesse tocado o coração” e continuava “Ela não o mostrou à professora? É que ela gosta tanto de Ciências que pensei... mas, provavelmente, teve receio de a magoar, pois gosta de si, gostou muito dos seus livros e não deve ter querido que ficasse a pensar que não lhe tinham tocado o coração...”.

Procurei nas minhas prateleiras uma ideia, uma resposta por entre os amigos que por lá se encostam uns aos outros, meio desalinhados de tão remexidos... E o olhar levou-me até Spúlveda: “História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar”.
Há duas semanas, numa aula de Ciências, entreguei-lhe discretamente o livro. “Lê quando te apetecer, demora o tempo que quiseres e no fim diz-me como foi.”

Não sei se vai ser este o livro, ou outro que um dia cruze o seu caminho...
Sei que prometo não sentir ciúme. Afinal, se não entrei no coração da Maria, terá sido para dar lugar nele, quem sabe, ao grande Luís. Com a vantagem de ser eu, e não o Luís, quem vai ter a sorte e o prazer de a ver crescer à minha frente... a ela e a todos os meninos que me levam pela mão até onde se esconde a realidade mais mágica de todas (aquela que poucos conhecem e nenhum livro conta).


O Professor vai ser sempre uma espécie de Soldado Desconhecido, uma Sereiazinha que salva secretamente o Príncipe para depois o entregar nas mãos de outra Princesa, o Gato que ensina Gaivotas a voar...
Não quer, nem espera mais do que isso...

...mas comove-se (esquece as dores e os dias escuros) quando um dia mais tarde alguém se lembra dele.

TMM
Excerto de um texto publicado no Correio da Educação,
CRIAP ASA, nº214, 28 Fevereiro 2005